segunda-feira, 29 de abril de 2013

Novos euros


Não deixa de ser bizarro ver um sorridente Mário Draghi apresentar as novas notas do euro, no momento em que a moeda atravessa a mais grave crise da sua história. Este empenho no lançamento dos novos papéis que andarão nas nossas carteiras soa a sátira, face à mudança real necessária.

Ainda não estou convencida de que a saída do euro seja a melhor solução para a crise. Ainda acho que as consequências da saída podem ser mais nefastas do que as da permanência. Seja como for, enquanto houver euro, uma coisa é certa: precisamos de um novo papel do euro na vida económica da Europa e não de novas notas. Esse novo papel só poderia ser assumido por um euro substancialmente diferente, orientado para o crescimento económico e com a capacidade de contribuir para o restabelecimento das economias afectadas por choques assimétricos.

A única hipótese de sobrevivência da moeda é uma reformulação profunda do Banco Central Europeu, transformando-se num organismo com controlo democrático e assumindo-se, declaradamente, como uma segurança para os estados membros e como um garante das economias europeias. Isso implica abandonar de vez a suposta independência que serve para mascarar o suporte ao sistema financeiro e passar a ter um papel ativo no financiamento mutualizado das dívidas públicas.

Não parece haver na Europa qualquer vontade política para uma mudança real. Tornar as notas de euro mais seguras numa altura em que o euro é, ele próprio, uma ameaça para os povos, é uma triste ironia...

5 comentários:

José Vítor Malheiros disse...

A questão é que não há nem objectivos consensuais nem um processo consensual para essa "reformulação profunda do Banco Central Europeu". Essa "reformulação" não é sequer uma reivindicação colectiva da esquerda europeia.

R.B. NorTør disse...

Cara Sara, pode-se interpretar a tua afirmaçao "A única hipótese de sobrevivência da moeda é uma reformulação profunda do Banco Central Europeu, transformando-se num organismo com controlo democrático e assumindo-se, declaradamente, como uma segurança para os estados membros e como um garante das economias europeias.", como querendo dizer, respectivamente, que o BCE se torna uma instituiçao europeia, sob a alçada da CE ou do PE, e que os Estados passam a poder financiar-se sem recorrer a entidades bancárias (e com as mesmas condiçoes da banca neste momento, já agora)?

José Malheiros, porque tem esta reformulaçao de ser pedida por "todos"? E o que é a "esquerda europeia"?

Anónimo disse...

Enquanto persistirem as políticas monetaristas e os actuais tratados , não há qualquer hipótese de melhoria

Anónimo disse...

Pois, é caso para dizer
“esse remédio jamais vai curar esse remédio eu conheço, é aspirina, isso só faz com que a cabeça descanse em paz enquanto a confusão contamina”
(Acústicos & Valvulados)

Anónimo disse...

Para quem tem esperança numa nova vida para além da morte pode dizer-se que sair do euro é equivalente a uma morte súbita, enquanto que a permanência no euro levará a uma morte penosa e lenta e o adiamento sine die de esperança numa nova vida. Por isso só temos de escolher se queremos ter uma nova vida depois duma morte súbita, ou depois duma morte lenta.