segunda-feira, 15 de abril de 2013

O plano de sempre

Volto à carga com um ponto simples, mas creio que cheio de implicações políticas e que os últimos acontecimentos em Dublin, na semana passada, confirmaram: aí assistimos a mais um episódio do processo em curso de renegociação da dívida dirigida pelos credores externos, no seu interesse e no interesse dos seus representantes internos, o actual governo. De facto, a extensão dos prazos médios de reembolso dos empréstimos europeus em sete anos destina-se a adiar incumprimentos soberanos desestabilizadores para os credores, dado o fardo de reembolsos concentrados num país sem soberania, entre a espada do capital financeiro e a parede da condicionalidade da troika. A extensão destina-se também, e este é o ponto central, a dar toda a força externa ao programa interno de austeridade assente nos cortes recessivos e regressivos na despesa pública, ou seja, nos rendimentos e serviços de que todos beneficiam, em especial os que têm relativamente menos recursos e poderes. Este é o plano de sempre.

Creio que nunca foi tão claro como, num fenómeno típico de sociedades tornadas dependentes, este governo assenta numa aliança de sectores sociais reaccionários cuja força interna tem sobretudo origens externas, neste caso concreto na economia política da integração europeia realmente existente. A política interna que não enfrentar a estrutura europeia está por isso condenada à derrota eterna. A questão social – “doentes e desempregados ajudam a tapar buraco orçamental” – e a questão nacional – “Troika em Lisboa na segunda-feira” –  estão hoje imbricadas como talvez nunca estiveram. Se isto é assim, a estratégia política fica muito mais clara. Tudo começa com um acto soberano democrático: a denúncia do memorando.

10 comentários:

Rural disse...

Talvez da Venezuela algum passarinho tenha assobiado ao ouvido de Sócrates, alguma solução salvadora!

E então a gente se salva!

Luís Lavoura disse...

a denúncia do memorando

Sim, e depois, o que acontece?

Portugal fica sem dinheiro para pagar o que deve. Entra em default julto dos credores internacionais. Quais as retaliações que sofrerá por esse default?

Portugal ficará livre de pagar juros, o que é bom. Mas será que isso bastará para equilibrar as contas do Estado? Creio que não (ainda há défice primário). Que fará o Estado então? Começar a imprimir euros, que também são moeda de outros países? Creio que não seria possível. Sair do euro, então. E depois? Como seriam pagas as dívidas dos bancos portugueses ao estrangeiro? Não seriam pagas, está-se a ver. E depois? O crédito estrangeiro era cortado. E haveria retaliações. Quais as consequências?

Aleixo disse...

O que surpreende, é o abdicar de Soberania... sempre a fugir da consulta ao Soberano!

Convencendo ou consultando, a decisão terá de satisfazer a maioria...representada!!!

Os "iluminados" da Esquerda, quando globalizam os objectivos, estão a representar quem??!!

O risco de surgir, um qualquer D. Sebastião desejado, deveria ser combatido pelos colectivos que, reclamam lutar pelo interesse da maioria.

Anónimo disse...

http://resistir.info/europa/jfa_cap_5.html

Manuel Afonso disse...

Concordo plenamente mas quanto ao pormenor onde visa explicar a surpreendenente força, ou capacidade de se manterem de pé, os contestados governos troikistas, como o de Passos Coelho, deixo uma nota. A explicação da força do governo irlandês ( aliança de sectores sociais reaccionários cuja força interna tem sobretudo origens externas, neste caso concreto na economia política da integração europeia) parece emprestada da tese agora em voga de que procura explicara sobrevivência do governo português apenas pelo forte apio externo. Essa tese eclipsa o facto de que o governo se mantém porque internamente é sustentado por uma almpla frente política, que da esquerda à direita, de uma forma ou de outra, sob a forma de apoio ou omissão, sustenta, ou não combate, a "política de integração europeia realmente existente"

TheRip disse...

Qual é objectivo desta politica da Troika de levar países à miséria... pessoas à pobreza??
No japão os iens são impressos e injectados directamente no estado... na Europa directamente nos bancos... e dps para dps financiar o estado!! Onde está a justiça disto???
Somos humanos... por amor de Deus!!
Haja respeito!!

Anónimo disse...

A não denúncia do memorando

Sim, e depois, o que acontece?

A austeridade continua a destruir o tecido produtivo.

Os desempregados são cada vez mais e de longa duração, perderão as capacidades de serem produtivos e acabarão na miséria e um fardo para a sociedade.

Os melhores emigrarão (já o estão a fazer) e darão a sua contribuição à Alemanha e outros.

A dívida será cada vez maior, e não descerá muito, mesmo com perdões, se vierem.

perderemos a independência - ainda mais - e definharemos - ainda mais.

Uma morte lenta e no fim... sairemos do Euro, pq os credores não perdoarão. Fracos, moribundos, passarão dezenas de anos até recuperarmos, e isto se sobrevivermos como nação. Lentamente assassinados.

parece que historicamente os defaults fazem passar um mau bocado (2, 3 anos) mas permitem os países recuperar a seguir (e tem a vantagem de não estarem a ser mais destruídos entretanto - note-se o aumento da dívida de dezenas de milhares de milhões sem resultado nenhum que estes 2 anos já nos custaram). É que com amigos como a troica, quem precisa de inimigos?

Anónimo disse...

Tal como as coisas estão e o que está à vista (os resultados económicos e a atitude da troica/Alemanha/comissão europeia), prefiro arriscar a saída imediata do Euro - tentar uma solução negociada e uma atitude à Alberto João Jardim (mas neste caso com razão)

José M. Sousa disse...

É curioso que quem fica tão alarmado e levanta tanta questões - pertinentes, naturalmente - sobre as dificuldades de sair do euro, não levante questões igualmente significativas sobre como conseguiremos aguentar ficar no euro. E uma delas até tem que ver com o pagamento da dívida, porque é impossível podermos pagar a dívida externa com as condicionantes que o euro e as políticas comunitárias nos impõem. Bem podem falar em empreededorismo, captar investimento estrangeiro, etc, etc. Com o colete de forças que nos está a ser imposto, com os juros que são cobrados ao Estado e à economia em geral, não há produtor que aguente!

José M. Sousa disse...


‘Nobody in Europe’ Sees a ‘Contradiction’ Between Austerity and Growth