terça-feira, 10 de outubro de 2017

Proposta com fotografia?

Será que a descarada proposta do CDS de isentar de IRS o trabalho extraordinário terá a ver com o conflito latente na Autoeuropa?

A administração - que quer criar um novo turno considerando o trabalho ao sabádo como um dia normal - aceitaria a reivindicação dos trabalhadores de o considerar como trabalho extra e o Estado é que pagava a factura...

Não seria caso impossível.

Já em 2016, os centristas se fizeram porta-voz dos interesses da administração da Autoeuropa ao pedir uma atenção do Governo para as dificudades por que a empresa passava. Na nota divulgada então, diziam mesmo que tinha sido sugerido pelos representantes da unidade “que se realize uma reunião conjunta entre responsáveis da empresa, representantes dos trabalhadores e organizações governamentais, por forma a encontrar soluções para o problema que não impliquem ‘lançar trabalhadores no desemprego'”.

Há cerca de um mês, o deputado Nuno Magalhães vendia a tese da administração de que, face à reacção dos trabalhadores contra às intenções de embaratecer o custo de trabalhar ao sábado, o que estava em causa era, sim, uma guerra entre o Bloco e o PCP, na comissão de trabalhadores. Uma guerra fratricida no meu distrito entre o BE e o PCP está a acabar com a Autoeuropa, e corre o risco de acabar com milhares de postos de trabalho em todo o país. É uma vergonha", declarou. "É uma vergonha, andam a brincar com o fogo!", gritava ele.

No final, a eleição para a comissão de trabalhadores, que supostamente deveria afastar os ditos trabalhadores mais "radicais", acabou por não dar representantes às listas mais próximos da administração da Autoeuropa ou da anterior CT demissionária. Ou seja, a questão está ainda por resolver.

A ser verdade, este não seria um caso inédito. Em todos os governos se aprovaram leis ou alterações legais que, em vez de um interesse geral, tinham antes um destinatário muito concreto.

E tanbém não seria caso inédito para o CDS. O CDS - e em especial o seu grupo parlamentar composto sobretudo por formados em direito (13 a 5) - é, na verdade, um digno advogado das causas empresariais em Portugal, embora no último governo tenham dado cabo de umas dezenas de milhar delas.

1 comentário:

Miguel Madeira disse...

"A administração - que quer criar um novo turno considerando o trabalho ao sabádo como um dia normal - aceitaria a reivindicação dos trabalhadores de o considerar como trabalho extra e o Estado é que pagava a factura..."

Não estou a perceber muito bem que diferença faz à administração da Autoeuropa que o trabalho extraordinário deixe de pagar IRS; ou melhor, faria se isso lhes permitisse baixar o valor nominal do trabalho extraordinário - mas como esse valor de certeza que está fixado, ou por algum acordo coletivo, ou - caso não haja esse acordo - pela lei geral, não me parece que no curto e médio prazo a Autoeuropa pudesse "internalizar" essa redução fiscal.